× Fale Conosco

Solicite um orçamento sem compromisso!

Enviar via
Clique aqui para falar conosco!
×
× Envie-nos um E-mail






Como a pesca pode ser realizada de forma sustentável em áreas de preservação ambiental

A pesca em áreas de preservação ambiental é um tema que provoca debates constantes entre comunidades ribeirinhas, ambientalistas, gestores públicos e cientistas. De um lado, está a necessidade de conservar ecossistemas sensíveis, fundamentais para a biodiversidade e o equilíbrio climático. 

Do outro, a sobrevivência de populações que dependem diretamente da atividade pesqueira para garantir o sustento e manter tradições culturais. Encontrar o ponto de equilíbrio entre uso e proteção é, portanto, um dos grandes desafios da atualidade.

Afinal, é possível pescar sem comprometer o meio ambiente? A resposta, segundo especialistas e exemplos práticos em diversas regiões do Brasil, é sim — desde que a atividade seja conduzida de forma responsável, com planejamento, controle e participação ativa das comunidades envolvidas. 

O conceito de pesca sustentável em áreas protegidas não se resume apenas à limitação da captura. Ele envolve educação ambiental, uso de tecnologias adequadas, monitoramento constante e políticas públicas coerentes com a realidade local.

Pesca de subsistência e tradição local

Em muitas unidades de conservação, especialmente nas Reservas Extrativistas (RESEX) e Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), a pesca não é apenas permitida — ela é incentivada, desde que praticada de forma sustentável. Nessas regiões, a pesca artesanal desempenha um papel fundamental tanto na manutenção da cultura local quanto na conservação do ambiente.

Diferentemente da pesca industrial, a pesca artesanal costuma empregar métodos de baixo impacto, como tarrafas, linhas de mão e armadilhas tradicionais. As embarcações são pequenas, geralmente sem motor, e a quantidade de peixe retirada é proporcional ao consumo da família ou da comunidade. 

Dessa maneira, os próprios pescadores, conhecedores do comportamento dos peixes e das condições dos rios, contribuem para preservar os estoques naturais ao respeitar épocas de reprodução e evitar espécies ameaçadas.

Normas e fiscalização: papel do Estado

Para que a pesca em áreas de proteção ambiental ocorra dentro dos limites ecológicos, é indispensável a presença do Estado. A definição de regras claras, com base em estudos técnicos, é o primeiro passo. Tais normas incluem cotas de captura, períodos de defeso (quando a pesca é proibida para garantir a reprodução das espécies), limites de apetrechos e áreas de exclusão permanente.

A fiscalização eficiente, porém, vai além da presença de agentes ambientais. Ela passa também pelo fortalecimento da vigilância comunitária, na qual os próprios moradores das áreas protegidas atuam como guardiões do território. 

Esse modelo tem se mostrado eficaz em diversas regiões do país, como no Médio Juruá, no Amazonas, onde associações de moradores participam ativamente da gestão dos recursos naturais e da proteção contra a pesca predatória.

Educação ambiental e valorização do conhecimento tradicional

Outro aspecto essencial para viabilizar a pesca sustentável em áreas de preservação é o investimento em educação ambiental. A conscientização das comunidades sobre a importância da biodiversidade, do equilíbrio dos ecossistemas e das consequências da sobrepesca é uma ferramenta poderosa de transformação. Ao compreenderem a fragilidade dos ambientes onde vivem, os próprios pescadores se tornam protagonistas da conservação.

Essa abordagem, no entanto, não deve desconsiderar o saber tradicional. Pelo contrário: incorporar o conhecimento acumulado ao longo de gerações é uma estratégia inteligente e eficiente. Pescadores experientes sabem, por exemplo, identificar os períodos em que os peixes desovam, os locais de alimentação e as épocas de migração. 

Esses saberes, muitas vezes ignorados por políticas centralizadas, são valiosos para complementar os dados científicos e construir planos de manejo realmente eficazes.

Tecnologia a favor da sustentabilidade

Apesar de a pesca artesanal estar associada a práticas mais simples, não significa abrir mão de tecnologia. Diversas iniciativas vêm integrando ferramentas modernas à rotina dos pescadores para garantir o controle e a rastreabilidade da atividade. Aplicativos de monitoramento, sistemas de GPS, coleta de dados em tempo real e uso de drones para fiscalização são exemplos de inovações que podem fortalecer a pesca sustentável.

Assim sendo, a adoção de técnicas seletivas de captura — que evitam a morte de espécies não comerciais ou juvenis — também é uma tendência importante. Redes com malhas específicas, anzóis circulares e armadilhas que permitem a soltura de peixes fora do padrão ideal são soluções simples, mas eficazes para reduzir o impacto da pesca.

Comercialização justa e certificação

Para tornar a pesca sustentável viável economicamente, é essencial garantir canais de comercialização justos e valorizados. A certificação de produtos pesqueiros oriundos de áreas de preservação ambiental, como o selo do MSC (Marine Stewardship Council) ou o do projeto Origens Brasil, pode aumentar o valor de mercado e atrair consumidores conscientes.

Esses selos atestam que o pescado foi obtido de forma sustentável, respeitando critérios ambientais, sociais e econômicos. Eles também oferecem às comunidades maior visibilidade e acesso a mercados diferenciados, como restaurantes de alta gastronomia ou redes de supermercados com compromisso socioambiental.

Desafios persistentes e soluções possíveis

Apesar dos avanços, ainda existem obstáculos significativos para consolidar a pesca sustentável em áreas protegidas. A falta de investimentos em infraestrutura, a burocracia para obter licenças, a ausência de políticas de incentivo à organização comunitária e a pressão de atividades ilegais, como a pesca predatória e o garimpo, comprometem os esforços de preservação.

Para superar essas barreiras, é fundamental uma ação conjunta entre governos, organizações não governamentais, setor privado e comunidades locais. O apoio técnico, o fomento à formação de cooperativas, o fortalecimento da pesquisa científica participativa e o incentivo à cadeia de valor sustentável são caminhos promissores.

Exemplos que inspiram

Iniciativas bem-sucedidas pelo Brasil mostram que a pesca sustentável em áreas de preservação é mais do que um ideal — é uma realidade possível. No litoral de São Paulo, por exemplo, pescadores da RESEX de Cananéia desenvolveram um modelo de captura do camarão sete-barbas com armadilhas de baixo impacto, resultando na certificação internacional do produto e aumento da renda local.

Já na Amazônia, comunidades ribeirinhas organizadas em associações e cooperativas controlam de forma participativa a pesca do pirarucu, uma das espécies mais emblemáticas da região. O manejo sustentável dessa espécie, que já esteve ameaçada de extinção, hoje gera renda para centenas de famílias e contribui diretamente para a conservação das florestas alagadas.

Equilíbrio como princípio

A pesca sustentável em áreas de preservação ambiental é, antes de tudo, uma questão de equilíbrio. Equilíbrio entre tradição e inovação, entre necessidade econômica e responsabilidade ecológica, entre liberdade e regulação. O respeito aos limites do ambiente não precisa ser visto como um entrave, mas como uma oportunidade de garantir o futuro das comunidades e da natureza.

Quando feita de forma planejada, participativa e consciente, a pesca deixa de ser um problema e se transforma em solução. Uma prática que alimenta, sustenta, respeita e preserva. A chave para esse processo está nas mãos daqueles que vivem da pesca — e nas políticas públicas que os reconhecem como aliados, não como obstáculos.